
Tanto se tem falado sobre a “criança interior” no
âmbito da psicologia de Carl Jung. Mas afinal qual é o seu verdadeiro
significado? Possivelmente estarás a fazer-te esta pergunta…
Compreendo a tua inquietação sobre o tema!
Os
primeiros 7 anos da vida são os anos da
infância que, em boa parte, ajudarão a definir quem será o adulto no futuro.
Quando somos crianças vivemos de maneira totalmente autêntica
e expressamo-nos sem medo de julgamentos e conseguimos manter a nossa essência
viva. Algumas das feridas emocionais que não foram curadas e que assombram a
nossa criança interior, refletem-se em vários aspectos da nossa vida.
Na nossa vida adulta por vezes ocorrem desafios que revelam
as nossas fragilidades, que estão guardadas no nosso inconsciente. A ausência do olhar para dentro de si, mergulhar
profundamente para ir ao encontro das próprias fragilidades, desejos e
necessidades pode criar mecanismos de autopunição e auto-sabotagem que, mesmo
inconscientemente, impedem o alcance da plenitude de ser.
A criança interior não é mais nem menos do que a criança que já fomos no primeiro estágio da nossa vida. É o arquétipo do modelo que está guardado no nosso inconsciente. Para a realidade psicológica, a criança é um símbolo de renovação, um encontro com a essência do individuo. Onde se encontram todas as recordações boas ou más e traumas que tenham existido.
“A criança que fui chora na
estrada, deixei-a ali quando vim ser quem sou. Mas hoje vendo que o que sou é
nada. Quero ir buscar quem fui, onde ficou.” (Fernando Pessoa)
Dentro de cada um de nós há uma criança interior que já foi
ferida. Para evitar a dor, tentamos ignorar essa criança, mas ela parece que nunca
se vai embora. A nossa criança interior vive na nossa mente inconsciente e
influencia as nossas escolhas e a forma como respondemos a desafios que vivemos
nas nossas vidas.
Quando entramos em contacto com os nossos verdadeiros
sentimentos, as dores reprimidas por sobrevivência, criamos máscaras perfeitas
para esconder a dor. Para não enfrentarmos o verdadeiro eu, a essência de cada
pessoa. A necessidade de encontrar, de ir ao encontro dessa criança, de
aceita-la e amá-la, é essencial no caminho do autoconhecimento. Caso contrário
sempre escolheremos inconscientemente, relacionamentos doentes e destrutivos
recriando padrões da infância.
“Não há
despertar de consciência sem dor. As pessoas farão de tudo, chegando aos
limites do absurdo para evitar enfrentar sua própria alma. Ninguém se torna iluminado
por imaginar figuras de luz, mas sim por tornar consciente a escuridão”. (Carl
G. Jung)
É importante
conversarmos com a nossa criança interior e ajudá-la a compreender e a
racionalizar situações difíceis que já teve que enfrentar, para que assim possa
desapegar-se desses traumas alojados no seu coração. Acima de tudo o mais importante
é acolhermos todas as partes da nossa criança interior, tudo o que ela traz,
tanto as suas tendências boas como ruins, para que assim estejamos livres para
encontrar e melhor ainda, expressar a verdadeira essência que existe dentro de
nós. Quando a criança interior está desperta em nós de forma saudável faz com
tenhamos coragem, entusiasmo e equilíbrio.
Em todo o
adulto espreita uma criança – uma criança eterna, algo que está sempre vindo a
ser, que nunca está completo, e que solicita atenção e educação incessantes.
(Carl G. Jung)